sexta-feira, 20 de novembro de 2009

BEM-HUMORANDO O MAU-HUMOR

Bem-humorando o mau-humor

Sabe aquele dia em que você não quer papo? Que acorda com o pé esquerdo? Que parece que tudo dá errado? Pois é. Quem nunca teve um deste? Se não teve me ensine o segredo. O quê? Você não teve?! Ah, não me venha com esta, com meras demagogias, dizendo: “Ah, eu sou feliz, sempre estou bem-humorado, nunca fico chateado nem emburrado”... Por favor! Nem só de emoções positivas vive o ser humano. Ficar emburrado, de tromba faz parte! Não se vive sempre num mar de rosas. Nem tudo é perfeito. Ainda mais neste nosso mundo. Onde parece que cada vez mais nada é perfeito. Esta sim é a realidade.

Que estranho, não é? Por que as pessoas sempre querem que estejamos super felizes e alegres? Elas não sabem os problemas e dificuldades pelos quais passamos. Não entendem, e nem sequer imaginam os conflitos familiares, as noites mal dormidas, as lutas interiores que travamos contra nosso próprio eu. Não! Não sabem. Mas isto é facilmente explicável. Muitas destas pessoas buscam em nós aquilo que elas não têm ou não recebem. Buscam completar o que ainda lhes falta, preencher o seu vazio.

Não estou falando de ser mal educado ou estúpido. Estou falando de ser respeitado pelos diversos sentimentos que se possa ter, mesmo quando eles não são assim, tão agradáveis. De poder sentir o que se sente. De ser livre para sentir, e liberar, e extravazar, e se libertar do que te atormenta, te fere, te machuca e que faz doer.

Pareço louco ou depressivo escrevendo a respeito do mau-humor. Mas prefiro me expressar e colocar para fora o que penso, do que fazer o que muitos fazem: Internalizam. Tomam para si. Sofrem sozinhos. Se auto-destroem. E aí, sim. Agem com estupidez, diminuindo os outros, ofendendo sem escrúpulos. Sem saber que neste momento que mais sofre, na realidade, é ele próprio. Sim, o próprio.

Mas que coisa! Tem dias que a gente não está afim de sorrir e apertar a mão de todos, e dar beijinhos e abraços. Sei lá. Acontece. Desculpe-me se te ofendi por estar assim e se sentir assim. Mas isto já te aconteceu. Ah, isso eu garanto! Então, respeite. Deixe estar. Isso passa.
O real problema é o mau-humor crônico. Tenho medo deste daí. Às vezes parece uma tendência. Que interessante, não? Por que não temos tendências para coisas boas? Bem, no momento nossa tendência é para o mal. Mas isto mudará... É um outro grande assunto. Mas, deixe para depois e vamos retornar. Quando você não busca corrigir o que te aflige, e não quer deixar maus-hábitos de vida, quando não tem vontade de mudar e não quer se consertar. Aí é difícil. O ser humano só pode ser consertado se ele quiser ser consertado. Papo de psicólogo. Mas é bem por aí mesmo. Ninguém pode mudar o que não quer. Não existe mudança a força. É algo intrínseco. É teu, e pronto. De ninguém mais.

Lindo falar sobre mudanças! Difícil é fazer. É agir. Difícil é mudar. Mas não custa nada tentar, nem que isto te gere um tremendo mau-humor (risadas).

É nesta hora que voltamos a mente para tudo mais ao redor, sobre o que nossa mente desfocada não percebe, e que está todo dia ao nosso redor. Lembrei-me de um caso.

Estes dias assisti uma reportagem de TV, sobre um catador de papel. Acorda todo dia cedo, corre pela cidade toda, tem os braços e as pernas “saradas”. Saradas até de mais. Braços e pernas fortes que a luta pela sobrevivência lhe proporciona. Este sim, teria motivos de mau-humor. Não tem lugar para morar. Passa suas noites em marquises de lojas. Passa seus dias correndo pelas ruas, buscando o pão-de-cada-dia, a cada quilo de papel capturado, alguns centavos a mais na conta do final do dia, e prá que consiga uma refeiçãozinha básica precisa de alguns consideráveis quilos. Isto sim seriam motivos para mau-humor. Chega ao final do dia exausto e fedido. Não tem onde tomar banho. Talvez um chafariz de algum monumento por aí, ou mesmo um ribeirãozinho qualquer poluído, qualquer coisa que tire a craca acumulada no dia... ou não.... Nenhum banho... E o fedor se acumulando. Ah, isto seria o motivo para mau humor. O motivo. Mas não! Não! Ele estava todo contente, sorrindo, cantando. E sabe o que ele faz com o dinheiro (leia-se dinheirozinho) que recebe ao final do dia? Tá pensando que ele pensa nele? Não! Ele pensa em seus cachorros que o acompanham nas suas correrias. Amigos fiéis. Bem, não vou falar a este respeito, porque sou suspeito (risadas). Mas é isto. Ele compra ração para seus companheiros. E depois o que sobrar ele compra talvez um pão ou um leite. O que der.

E você fica mal-humorado, não é? Ainda tem coragem? Vai de carro para o trabalho, no seu ar condicionado. Chega todos os dias na tua casa, toma teu banho quente, com temperatura regulável. Recebe teu salário todo o final de mês, pouco ou muito, mas recebe. E acha que você é o mau-humorado?

Engraçado. Apesar de todo mau-humor, já estou até falando a respeito de “risadas”. Viu só! Nem percebi! Acho que esta retórica de tendência para o mal não é tão verdade assim! É como eu disse, são momentos. Eles vêm e vão. Tentando melhorar eles serão menos freqüentes, mas sempre voltarão. Que bom que passarão e não ficarão. Mas para isto, tem que querer. Evitando o mau-humor crônico que o perigoso e se ajustando ao mau-humor ocasional. Este até faz bem. Porque te mostra que ficar feliz e se sentir feliz é muito bom. E que estes momentos devem ser aproveitados com ênfase, porque são poucos, porém intensos.

Ler tudo isto deve ter te dado um tremendo mau-humor. Então olhe-se no espelho, pense e reflita em quem e o que você é. No que pretende ser e no que será. Nos seus planos e sonhos. Olhe ao redor, pense em todos que te rodeam, o que significam para você. Não vale a pena! Pode acontecer. Mas não vale perdurar. Temos muito mais do que imaginamos. E muitas vezes, nem paramos para perceber.

E antes que eu também fique mau-humorado por não ter mais o que dizer. Vou seguindo a vida, buscando bem-humorar o mau-humor que às vezes sinto. Indiferente do que pensem ou do que falem. Importa o que sou e o que estou querendo ser. E disto. Só eu sei.

Jamil Júnior

Florianópolis, 20 de Novembro de 2009.

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